
O trecho
está na minha cabeça não somente pelo espetáculo que é o filme, por sua beleza,
mensagem, sutileza, poesia e resistência (teria aqui vários adjetivos ainda,
mas vamos parar), mas também pelo o que remeteu o filme em vários momentos. Materializei
várias atrizes na figura pequena, inusitada e aparentemente frágil de Kiriku.
“Mulher é gorda é gorda e tem o seu valor. Mulher negra é
negra e tem o seu valor. Mulher baixa é baixa e tem o seu valor. Mulher
manequim 40 é manequim 40 e tem o seu valor. Mulher magra é magra e tem o seu
valor. Cabelos cacheados e crespos são cacheados e crespos e tem o seu valor”
... Somos lindas em nossa diversidade!
Não
importa os padrões de beleza que a mídia divulga, por exemplo, fazendo-nos crê
que são os certos, e pelos quais nós devemos nos submeter aos sacrifícios impostos
para alcançá-los.
É por
essa linha de pensamento que realizamos um ato neste domingo, 21 de outubro,
quando algumas participantes (eu, Bernadete, Cleide e Flávia) da Casa 8 de
Março - Organização Feminista do Tocantins – manifestaram-se contra
a veiculação de propagandas machistas por parte da empresa Marisa e contra essa
mídia machista que dissemina cotidianamente a ditadura da beleza, magreza e
ofensas contra as mulheres em campanhas publicitárias, novelas, programas de
humor, esse último, maciçamente. Já existe até um Movimento Nacional,
apartidário e de caráter pacífico, chamado Marcha Contra a Mídia Machista, que
protesta contra a desvalorização e distorção da imagem da mulher em diversas
mídias.
Nós fizemos um ato
silencioso e pacífico em frente à loja da filial aqui no Estado do Tocantins.
Fomos abordadas por várias pessoas para perguntar o significado das frases dos
nossos cartazes (Contra a Mídia Machista/Vou pelada, mas não vou de Marisa) e
nós explicamos e fomos bem recebidas, inclusive por funcionárias da loja.
Alguns depoimentos emocionantes, como um de uma adolescente – "sou branca,
mas meu cabelo é cacheado, não sou magra e sou linda", nos animaram muito,
pois, já é uma semente vindo por ai.
No entanto, algumas
pessoas não conseguem perceber a dimensão dos comerciais machistas, que falam
dos sacrifícios que a mulher precisaria fazer para ficar pronta para o verão,
por exemplo, excluindo todas as outras mulheres que não fizeram o tal do
sacrifício, colocando-as num patamar inferior, no qual são tachadas de feias,
gordas, foras de forma, sendo, consequentemente, excluídas dos espaços, que na
concepção da Marca, só poderiam ser ocupados pelas mulheres que estão em forma
para o verão.
Nós mulheres, oprimidas e
rechaçadas todos os dias, sabemos o tamanho de nosso desafio. Inclusive na conscientização
das outras mulheres, que fragilizadas por uma cultura machista, são machistas e
não percebem que são também oprimidas.
Durou cerca de 20 minutos
o nosso ato, até quando fomos "convidadas" a parar com a
manifestação. Enrolamos os nossos cartazes e fomos embora pacificamente!
Independente de ser
pequena, grande, loira, negra, índia, todas as mulheres, em sua diversidade, têm
o seu valor.
Rose Dayanne Santana
Jornalista
Foto: Tácio Pimenta
texto publicado originalmente em