sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sobre aviõezinhos de papel e linhas tortas

Quem nunca brincou com aviõezinhos de papel? Só quem nunca foi criança... Algumas pessoas queriam fazer jatinhos, Boeings, naves espaciais e mal conseguiam dobrar aqueles papéis coloridos das aulas de educação artística... Seus aviõezinhos nunca voavam... Mas elas nunca desistiram de fazê-los...
Uma dessas era a pequena! Ela nunca levou jeito para nada manual, artístico... Seus cartões de natal, dia das mães, lembranças de páscoa sempre eram os piores... Aqueles que se destacavam nas exposições por serem os mais feios... Não levava jeito para a coisa... Gostava da época das bandeirolas, pois como não tinha jeito para mexer o corpo e balançar os quadris, adorava colar bandeirolas de todas as cores e formatos, e apreciar o balançar das bandeirinhas como se fosse seu, colorindo e animando as festas dos santos do mês junho... Era seu disfarce, sua forma de ser feliz!
Mesmo que seus aviõezinhos não voassem, não tinha problema... a mente da pequena voava por si só, sem precisar de instrumentos... Viajava até a Lua, trocava ideias com ela, chamava-a pelo nome, seu nome... E viajava... Viajava até onde sua imaginação desejasse voar... Só precisa de um sonho! Ela tinha vários... Ruim dizer tinha!... Mas?!
Mas nessa vida traçada em roteiro certo com linhas tortas, em que o traçado é seu, é dela... A vida te leva e você se deixa levar... Como naqueles cadernos de caligrafia que você preenche quando é criança para desenvolver sua coordenação motora, ou pelo menos tentar... As linhas estão lá, perfeitas... O roteiro está lá, basta copiá-lo, segui-lo... Mas você, de vez em quando pula linhas, começa de trás para frente, faz uma fileira, pula para outra, vacila, apaga, rabisca, volta para linha certa ou que pensa ser certa... E assim, tentado escrever certinho e reto, sem o auxílio do Microsoft Word, ela vai escrevendo a sua vida... Escrevendo do jeito que ela sabe escrever, do jeito que pode...
Escrever torto é errado? Escrever certo é certo? Ela acredita que nenhum nem outro... O importante é escrever e não deixar seu papel em branco... Com responsabilidade e clareza do que se escreve.... Até mesmo seu aviãozinho de papel precisa de cor e história, com erros e acertos...
E de vez em quando ele pousa onde menos se espera... Mesmo quando o roteiro era outro, e o plano não era aquele... Sua conexão não era aquela, mas a turbulência fez o aviãozinho pousar numa pista diferente da programada, mas que seria na verdade a pista que ele deveria pousar, contrariando a rota certa, ou que seria certa... Não poderia ser diferente...
E mesmo num bar estranho, com gente esquisita, libertários, visionários, otimistas, hipócritas e artistas, sem nenhuma dose de tequila, acontecem situações que ainda surpreendem... Aquelas coisas dos romances que se lia na infância, com situações mirabolantes!
Coisas que nem a biologia, a psicologia, a matemática e a geografia não conseguem explicar, talvez por que não tenham mesmo explicação... Num tempo e num espaço onde macacos nus e peludos confrontam as suas diferenças e acabam se esbarrando nas suas semelhanças... Num espaço onde a menina mulher lhe coloca frente a frente com a menina mulher que você foi... Num tempo em que seus aviõezinhos podiam levar para onde quisesse... Mas?!
Mas ainda podem! Ainda devem! E nessa prática constante de ser o que é, amargando e saboreando as dores e as delícias de ser você, enfrentamos essa selva de loucos cogumelos azuis, na batida perfeita, sem deixar a música parar... (mesmo que o texto tenha se perdido uma vez, por que o tal Microsoft Word não salvou)... Comece de novo, sempre!
Poderia ser um belo diário… Um diário de motocicleta…
mas, neste caso, seria um diário de aviõezinhos...

3 comentários:

Anônimo disse...

Ainda podem. Ainda devem.

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psiu, volta pro layout antigo, tava tão mais bonito!

Ivonete disse...

...com aviõezinhos, se de papel ou alumínio, meu desejo sincero é que continue em voos, mais amplos e mais distantes. Tens sensibilidade com as palavras e atitudes que podem transformar espaços.

Maíra Selva disse...

vou pensar nisso..