segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Todas as mulheres, em sua diversidade, têm o seu valor


 “Kiriku é pequeno, mas tem o seu valor! Kiriku é pequeno, mas tem o seu valor!” Ouvi essa cantiga hoje na animação francesa “Kiriku e a Feiticeira”, de Michel Ocelot, no Cine Sem Tela. Kiruku era mesmo muito pequeno e totalmente inusitado! Figura esquisita e teimosa, que conseguiu salvar o seu povo dos males que os oprimiam. O nosso herói não estava com armaduras e não era assim “bonito”, digo “bonito” aos padrões de beleza postos pela mídia, por exemplo! Mas era de uma força, coragem e teimosia incrivelmente cativante. Sim, Kiriku era bonito! Para mim e para aquelas crianças que assistiram a sessão conosco, Kiriku era um herói pequeno, negro e lindo.
O trecho está na minha cabeça não somente pelo espetáculo que é o filme, por sua beleza, mensagem, sutileza, poesia e resistência (teria aqui vários adjetivos ainda, mas vamos parar), mas também pelo o que remeteu o filme em vários momentos. Materializei várias atrizes na figura pequena, inusitada e aparentemente frágil de Kiriku.
“Mulher é gorda é gorda e tem o seu valor. Mulher negra é negra e tem o seu valor. Mulher baixa é baixa e tem o seu valor. Mulher manequim 40 é manequim 40 e tem o seu valor. Mulher magra é magra e tem o seu valor. Cabelos cacheados e crespos são cacheados e crespos e tem o seu valor” ... Somos lindas em nossa diversidade!
Não importa os padrões de beleza que a mídia divulga, por exemplo, fazendo-nos crê que são os certos, e pelos quais nós devemos nos submeter aos sacrifícios impostos para alcançá-los.
É por essa linha de pensamento que realizamos um ato neste domingo, 21 de outubro, quando algumas participantes (eu, Bernadete, Cleide e Flávia) da Casa 8 de Março - Organização Feminista do Tocantins – manifestaram-se contra a veiculação de propagandas machistas por parte da empresa Marisa e contra essa mídia machista que dissemina cotidianamente a ditadura da beleza, magreza e ofensas contra as mulheres em campanhas publicitárias, novelas, programas de humor, esse último, maciçamente. Já existe até um Movimento Nacional, apartidário e de caráter pacífico, chamado Marcha Contra a Mídia Machista, que protesta contra a desvalorização e distorção da imagem da mulher em diversas mídias.
Nós fizemos um ato silencioso e pacífico em frente à loja da filial aqui no Estado do Tocantins. Fomos abordadas por várias pessoas para perguntar o significado das frases dos nossos cartazes (Contra a Mídia Machista/Vou pelada, mas não vou de Marisa) e nós explicamos e fomos bem recebidas, inclusive por funcionárias da loja. Alguns depoimentos emocionantes, como um de uma adolescente – "sou branca, mas meu cabelo é cacheado, não sou magra e sou linda", nos animaram muito, pois, já é uma semente vindo por ai.  
No entanto, algumas pessoas não conseguem perceber a dimensão dos comerciais machistas, que falam dos sacrifícios que a mulher precisaria fazer para ficar pronta para o verão, por exemplo, excluindo todas as outras mulheres que não fizeram o tal do sacrifício, colocando-as num patamar inferior, no qual são tachadas de feias, gordas, foras de forma, sendo, consequentemente, excluídas dos espaços, que na concepção da Marca, só poderiam ser ocupados pelas mulheres que estão em forma para o verão.
Nós mulheres, oprimidas e rechaçadas todos os dias, sabemos o tamanho de nosso desafio. Inclusive na conscientização das outras mulheres, que fragilizadas por uma cultura machista, são machistas e não percebem que são também oprimidas.
Durou cerca de 20 minutos o nosso ato, até quando fomos "convidadas" a parar com a manifestação. Enrolamos os nossos cartazes e fomos embora pacificamente!
Independente de ser pequena, grande, loira, negra, índia, todas as mulheres, em sua diversidade, têm o seu valor.

Rose Dayanne Santana
Jornalista
Foto: Tácio Pimenta

texto publicado originalmente em 


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