quarta-feira, 21 de julho de 2010

O pôr do sol, os patos e a quinta-feira

Apesar dos sonhos, digamos assim, esteticamente não tão belos, sonhados de um dia para o outro, lembrou-se de um sermão que ouviu no domingo, pouco antes de dormir:
- Ninguém é importante o suficiente para estragar o seu dia. Não dê tanto poder ao outro! Você pode começar de novo!

Embora, inconscientemente, guardou consigo aquela fala e com certeza a usaria no decorrer do dia, da semana, da vida... Mesmo tendo acordado cedo, chegou atrasada ao trabalho. Com sorrisos mil, ficou também a mil durante a manhã...

Ingênua! Não imaginava! Das peripécias diárias, entre médicos, despachos, protocolos, correspondências oficiais e emails, teve um dia diferente, como disse a Pequena: um dia não, um fim de tarde!

Confessou que o sanduiche estava assim meio murcho, mas o suco de goiaba (um dos preferidos) estava divino! Como exagera! Mas sim, talvez estivesse mesmo!

Como dizia: Queria o romantismo do dia! Apesar de ser quinta-feira, questionava-se: Quem decretou que quinta-feira é apenas dia de trabalhar, em que não se pode ser feliz? E por acaso deve-se esperar um dia para ser feliz? Por que não ser feliz todos os dias?

Sim, ela tinha razão... Procurou ser feliz naquele dia, naquele fim de tarde e ver a vida com olhos verão.

Quis tirar uma fotografia. Sim, projetou a imagem em três planos, mas infelizmente não tinha a câmera. Primeiro a margem, depois o pescador despercebido íntimo ao rio e, por fim, o pôr do sol... Embora, não a concretizou em pixels, mas com certeza, poderá dizer que o fez na alma. Já o pescador, não estava ali apenas por estar... Tinha um motivo nobre que com certeza daria ainda mais valor a tal imagem... Seu objetivo era buscar ali, naquele rio, o qual como poucos conhecia, o que mais tarde serviria na festa de um grupo de transeuntes, no aniversário de um deles. Esse era o seu presente. Um presente simples e honrado, de um pescador.

Depois da cena que não conseguiu capturar, voltou-se então a um grupo de patos que por ali estava. Os patinhos vinham sorrateiramente, nadando numa água que já foi corrente e que de vez em quando assusta com algumas marolinhas, dessas umas fatais outras não. Despercebidos os tais patinhos esbarraram na cerca d’água, que segundo os que a colocaram, deveriam barrar as piranhas, mas que naquele momento apenas interrompia a passagem dos patos...

No entanto, o mais interessante não foi isso! Mas, o ritual que aconteceu em seguida... Todos os patos voaram então por cima da cerca, exceto três deles. Dois deles atravessam a cerca por um buraco e outro ficou a observar o ritual que se seguia entre o casal além da cerca... Sobre esse ritual, a pequena não quis assim dar detalhes, ficou a meditar e revelou: Conseguir entender vendo aquele ritual como algumas relações humanas de fato acontecem e de como podemos torná-las hipócritas.
Por um momento entristeceu-se, mas não valeria a pena, aliás, o pôr do sol que por ali estava não merecia nenhum vestígio de tristeza...

(Galera esse texto é um reescrito de um texto anterior, adaptei um tiquinho para publicar numa coluna de um jornal daqui do Estado. Compartilho com vcs!!!)

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